Eu confesso que ao mergulhar nos primeiros capítulos de “The Apothecary Diaries“, estava meio cético quanto ao seu apelo. O anime, hospedado no Crunchyroll, afasta-se deliberadamente das normas estabelecidas pela maioria dos desenhos animados ocidentais e pela indústria japonesa dominada por elementos sobrenaturais, ao apresentar uma série histórica que se compromete com o realismo.
Por um lado, essa fidelidade à realidade histórica pode ser uma barreira para alguns fãs de anime, acostumados com doses regulares de magia e habilidades extraordinárias. No entanto, é exatamente esse diferencial que me parece um respiro necessário, uma oportunidade de explorar o passado com uma lente mais crível e igualmente fascinante.
“The Apothecary Diaries” pode não entregar poderes mágicos ou criaturas fantásticas, mas Maomao, a heroína da série, se destaca em um reino onde a inteligência e o conhecimento são suas maiores armas. Com habilidades excepcionais em artes medicinais, Maomao se vê em uma posição intrigante — a de serva e conselheira medicinal dos nobres.
Ainda que o desenvolvimento do personagem não se dê através dos tradicionais “power-ups”, a sua jornada lembra os percursos de personagens de animes shonen e seinen, onde a evolução é pautada por desafios e crescimento pessoal. Isso é atraente e se encaixa bem na narrativa, mostrando que a verdadeira força muitas vezes reside na capacidade de adaptar e aplicar conhecimento, não apenas em habilidades sobre-humanas.
Desde o início, a série tem se desdobrado em complexidade a cada novo episódio, um ponto forte em meu ponto de vista. Maomao não se limita a ser uma curandeira dentro das muralhas do palácio; ela se torna uma detetive astuta, solucionando mistérios que vão desde doenças misteriosas até intrigas amorosas entre concubinas e soldados. É fascinante ver como cada caso não só adiciona uma nova camada à narrativa, mas também ao que significa ser parte de um harém imperial. A capacidade da série de tecer subtramas pessoais em meio a enigmas maiores é um testemunho da sua habilidade em contar histórias que cativam e surpreendem.
Atingindo o quarto episódio, somos confrontados com um retorno à primeira enfermidade abordada no começo da série, criando uma sensação de continuidade e profundidade que muitas vezes é reservada para franquias mais amplas. É gratificante ver como os eventos anteriores não são esquecidos, mas sim construídos sobre eles, permitindo que a história ganhe em complexidade e coesão. A reputação de Maomao começa a precedê-la, e sua influência se espalha, sugerindo que sua jornada está longe de ser estática e previsível.
O que pode ser uma pedra no sapato para os espectadores acostumados a um certo estilo de anime — a falta de elementos sobrenaturais — em “The Apothecary Diaries”, transforma-se em seu ponto forte. A série equilibra seu tom sério com momentos de alívio cômico característicos de anime, como as expressões exageradas e as famosas gotas de suor.
Isso não só adiciona um charme necessário, mas também mantém a série acessível e divertida, provando que a comédia não é um domínio exclusivo de animes modernos e que pode ser habilmente entrelaçada mesmo em histórias que prestam homenagem à realidade histórica.
Em última análise, “The Apothecary Diaries” tem todos os ingredientes que os aficionados por anime poderiam desejar — personagens bem desenvolvidos, uma narrativa inteligente e uma habilidade única de misturar o antigo com o novo. A série desafia as expectativas e nos convida a olhar além do nosso conforto de feitiços e lutas épicas, para encontrar beleza e emoção na inteligência humana e na complexidade da vida no palácio imperial.
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Última atualização: 05/11/2023 14:42
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